quarta-feira, 20 de junho de 2012

a PQNA VOLTA


A PQNA VOLTA nasceu do desespero. Não dava mais para esperar que a viagem viesse, que a poesia surgisse, se eu mantinha os olhos e os pés fechados e atracados ao chão.
Depois de ouvir de um amigo o relato de um grandíssimo sarau, O Menor Sarau do Mundo, criado pelo poeta Giovani Baffô, fiquei pensando, feliz, na beleza da ideia. O tempo passou – como um guepardo compromissado- e a vida continuou a mesma. Até que um dia, outro amigo me oferece sua mão num poema (que está aqui pra vocês sentirem, como eu, o aperto de uma mão amiga). O poema:

Uma vida dolorida    
Está a uma letra                    
De tornar-se colorida[1]           

 A partir daí, queria muito humildemente retribuir-lhe a ajuda. Escrevi, então, um poema a ele. Segue:

           Lenço branco no casaco          
  do velhinho.  
           Passa um vento e ele voa.
Passarinho[2]                  

Os dias insistiram em continuar correndo e o incômodo do estar parado começou a ficar cada dia mais impossível. Logo algo aconteceria - uma daquelas surpresas ocasionais do Acaso - voltou em mim, por aquela luz que sobra de outra pessoa, a poesia. Talvez porque eu tivesse aberto os olhos de novo; ou voltado a enxergar com eles fechados, o que é mais provável.
Quando percebi, os poemas que escrevia tinham melodias explícitas. Comecei a cantá-las. Lembrei do Menor Sarau do Mundo e resolvi tentar compor o Segundo Menor Sarau do Mundo, que teria alguns poemas rápidos, canções em gota, haicais musicados, doses mínimas de poesia. Seria itinerante, percorrendo alguns países latino-americanos – por necessidade do caminho, do movimento externo pra acompanhar o interior que estava em plena agitação. Tracei um pequeno mapa, e pronto. Eu vou, pensei.
Bom, precisava agora de um nome pra viagem. Não sei bem porquê, mas queria um nome. Os poemas continuaram surgindo e notei que tinham um mesmo tom. Tinham todos o movimento em si. Eles não queriam ficar parados. Eles, então, os poemas, me lembraram de um outro amigo – um que só ouvi falar- que comentou certa vez sobre um poema belíssimo, grafitado ao redor da rodoviária de Curitiba, nos idos anos de 1980.
O poema é PQNA VOLTE. Emprestei. E como gratidão a esse amigo, quem inclusive me apresentou a poesia, deixo aqui um poema em sua homenagem.

a Paulo Leminski, um amigo que só ouvi dizer
                                                                       
   Pessoas deviam poder reaparecer 
quando os que não foram quisessem
    não deixar por aí essas faltas,
esses passos em pranto, buracos cheios de branco,
   trincos passados a vento, palavras-retrato,
e esses desapertos de peito 
    que só me deixam com frio.


             É preciso dizer, ainda, que será a viagem o tema da PQNA VOLTA, por isso, este relato em versos só estará completo na volta.
            Desses poemas desesperados, nasceu um livro (que será bilíngue: português/espanhol, uma vez que o sarau percorrerá Paraguai, Argentina e Uruguai) O livro está dividido em quatro seções: as três primeiras ("INVERNO, invento"; "DESCOBERTA da cor" e "OUTONO") carregam os poemas e canções do sarau; a quarta, "AREIA" será composta durante o percurso, em plena viagem, na construção da volta. Alguns poemas que vierem à luz durante a viagem serão postados aqui no blog, de modo que quem tiver o livro em mãos poderá, se quiser, completá-lo com o próprio punho, calor, pele, tinta, vida... A ideia, no entanto, é irmos juntos e compormos a última seção em conjunto. Por isso, mandem-me e-mails (pqnavolta@gmail.com) com seus poemas, para que eu poste no blog e terminemos juntos o livro. Entre amigos.
         A viagem está próxima a começar, apesar de crer que já tenha começado. Não irei sozinho, meus amigos estarão ao meu lado (e não “só” metaforicamente falando). Faremos fotos, vídeos, versos, prosas, amigos, saudades...tudo será postado aqui, em breve.
         Olhando, agora, acho que podia ter resumido tudo, dizendo que a PQNA VOLTA nasceu dos meus amigos.
         A PQNA VOLTA, portanto, é pra eles, porque é ela mesma eles próprios.









l.m


[1] Una vida dolorida/ está a una letra/ de tornarse colorida
[2] Pañuelo blanco en la chaqueta/ del viejito./ Pasa un viento y él vuela./ Pajarito



A história é pequena demais pra contar,


Mas sempre temos os dois lados:

Lado de dentro e Lado de fora:
Um sarau
pequeno
e viajante

Lado de fora:
Uma viagem
um tanto curta

                            Lado de dentro:
                            Uma viagem
                            sem mapa, sempre estrada