A PQNA VOLTA nasceu do desespero. Não
dava mais para esperar que a viagem viesse, que a poesia surgisse, se eu
mantinha os olhos e os pés fechados e atracados ao chão.
Depois de ouvir de um amigo o relato de
um grandíssimo sarau, O Menor Sarau do
Mundo, criado pelo poeta Giovani Baffô, fiquei pensando, feliz, na beleza
da ideia. O tempo passou – como um guepardo compromissado- e a vida continuou a
mesma. Até que um dia, outro amigo me oferece sua mão num poema (que está aqui
pra vocês sentirem, como eu, o aperto de uma mão amiga). O poema:
Uma vida
dolorida
Está a uma
letra
De tornar-se
colorida[1]
A
partir daí, queria muito humildemente retribuir-lhe a ajuda. Escrevi, então, um
poema a ele. Segue:
Lenço branco
no casaco
do
velhinho.
Passa um vento
e ele voa.
Passarinho[2]
Os dias insistiram em continuar correndo
e o incômodo do estar parado começou a ficar cada dia mais impossível. Logo
algo aconteceria - uma daquelas surpresas ocasionais do Acaso - voltou em mim,
por aquela luz que sobra de outra pessoa, a poesia. Talvez porque eu tivesse
aberto os olhos de novo; ou voltado a enxergar com eles fechados, o que é mais
provável.
Quando percebi, os poemas que escrevia
tinham melodias explícitas. Comecei a cantá-las. Lembrei do Menor Sarau do Mundo e resolvi tentar
compor o Segundo Menor Sarau do Mundo,
que teria alguns poemas rápidos, canções em gota, haicais musicados, doses
mínimas de poesia. Seria itinerante, percorrendo alguns países
latino-americanos – por necessidade do caminho, do movimento externo pra
acompanhar o interior que estava em plena agitação. Tracei um pequeno mapa, e
pronto. Eu vou, pensei.
Bom, precisava agora de um nome pra
viagem. Não sei bem porquê, mas queria um nome. Os poemas continuaram surgindo
e notei que tinham um mesmo tom. Tinham todos o movimento em si. Eles não
queriam ficar parados. Eles, então, os poemas, me lembraram de um outro amigo –
um que só ouvi falar- que comentou certa vez sobre um poema belíssimo,
grafitado ao redor da rodoviária de Curitiba, nos idos anos de 1980.
O poema é PQNA VOLTE. Emprestei. E como
gratidão a esse amigo, quem inclusive me apresentou a poesia, deixo aqui um
poema em sua homenagem.
a Paulo Leminski, um amigo que só ouvi dizer
Pessoas deviam poder reaparecer
quando os que
não foram quisessem
não deixar por aí essas faltas,
esses passos
em pranto, buracos cheios de branco,
trincos passados a vento, palavras-retrato,
e esses
desapertos de peito
que só me deixam com frio.
É preciso dizer, ainda, que será a viagem o tema da PQNA VOLTA, por isso, este relato em versos só estará completo na volta.
Desses poemas desesperados, nasceu um livro (que será bilíngue: português/espanhol, uma vez que o sarau percorrerá Paraguai, Argentina e Uruguai) O livro está dividido em quatro seções: as três primeiras ("INVERNO, invento"; "DESCOBERTA da cor" e "OUTONO") carregam os poemas e canções do sarau; a quarta, "AREIA" será composta durante o percurso, em plena viagem, na construção da volta. Alguns poemas que vierem à luz durante a viagem serão postados aqui no blog, de modo que quem tiver o livro em mãos poderá, se quiser, completá-lo com o próprio punho, calor, pele, tinta, vida... A ideia, no entanto, é irmos juntos e compormos a última seção em conjunto. Por isso, mandem-me e-mails (pqnavolta@gmail.com) com seus poemas, para que eu poste no blog e terminemos juntos o livro. Entre amigos.
A viagem está próxima a começar, apesar de crer que já tenha começado. Não irei sozinho, meus amigos estarão ao meu lado (e não “só” metaforicamente falando). Faremos fotos, vídeos, versos, prosas, amigos, saudades...tudo será postado aqui, em breve.
Olhando, agora, acho que podia ter resumido tudo, dizendo que a PQNA VOLTA nasceu dos meus amigos.
A PQNA VOLTA, portanto, é pra eles, porque é ela mesma eles próprios.
l.m